A liturgia deste XX Domingo Comum nos
chama a atenção para as exigências que um testemunho fiel nos pode apresentar:
perseguição, incompreensão e divisão. Mas ela não nos desanima; ao contrário,
nos convida à esperança, na certeza da proteção de Deus para com o seu povo
amado.
Na primeira leitura, o profeta
Jeremias colhe o fruto amargo do seu ministério profético: é perseguido pelo
rei e castigado, correndo perigo de morte. Jeremias, literalmente, vai ao “fundo
do poço”, mas não deixa abalar sua confiança. E Deus livra o profeta da morte.
Se nos recordarmos do início do seu livro, quando Deus convoca Jeremias para a
missão, já lhe apresenta essa realidade: “Eu ponho minhas palavras na tua boca.
Vê: hoje eu te coloco contra nações e reinos, para arrancar e derrubar,
devastar e destruir, para construir e para plantar” (Jr 1,9s).
O Senhor não engana, não promete uma
vida fácil, mas também não retira sua bênção nem sua proteção, seja qual for o
perigo. Já canta o salmo essa confiança: “Eu sou pobre, infeliz, desvalido,
porém guarda o Senhor minha vida, e por mim se desdobra em carinho” (Sl 39,18).
A missão se realiza na dupla certeza da dureza do caminho e da mão
misericordiosa de Deus a guiar e proteger a quem o teme e nele confia.
Jesus, no evangelho, adverte os
discípulos sobre o que pode esperá-los no caminho da missão. Contrariedade e
divisão são sinais do efeito curativo da Boa-Nova: é preciso que a Palavra faça
arder os corações (cf. Lc 24,32) para provocar uma profunda transformação que
resulte em verdadeira conversão. Esse é o caminho do Mestre; será também o dos
discípulos. Jesus, assim, vai revelando progressivamente à comunidade o seu
destino e a sua identidade. Essa palavra de Jesus não é para desanimar os
discípulos, mas para estimular a sua coragem diante das controvérsias e
perseguições futuras. Assim também para nós hoje.
A Carta aos Hebreus ilustra bem essa
realidade que Jeremias e Lucas nos apresentam: é preciso perseverança no
combate, firmeza diante dos medos e perigos, coragem para não desanimar. Diante
do mal, não estamos sozinhos: a Igreja é comunhão de fé, é “comunhão dos
santos” – entre os que estão aqui neste mundo e os que já passaram além! Todos
somos testemunhas da misericórdia do Senhor que ilumina e transforma a vida
pelo amor. Com os “olhos fixos em Jesus” (cf. Hb 12,2), a “Testemunha Fiel”
(cf. Ap 3,14), alcançamos a fortaleza diante das dificuldades e contrariedades
que se podem abater sobre nossa vida.
No mundo conturbado em que vivemos se
reafirma a necessidade do testemunho fiel das nossas famílias. Ensina o
Concílio Vaticano II: “os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e
estabelecidos numa dignidade verdadeiramente pessoal, estejam unidos em
comunhão de afeto e pensamento e com mútua santidade de modo que, seguindo a
Cristo, princípio de vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das
alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que
Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição” (Constituição Gaudium et Spes, n. 52). Pais e mães
são, assim, convocados pelo próprio Senhor a educar as crianças na “esperança
que não decepciona” (Rm 5,5), que ilumina e enche o mundo de alegria.
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