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Mostrando postagens de setembro, 2015

A raiz humana da crise ecológica – Laudato Si’ V

Depois de apresentar um panorama da situação ambiental atual e recordar as luzes que a Palavra de Deus oferece à realidade do mundo criado, o Papa Francisco se dedica, no capítulo III da Encíclica Laudato Si’ (LS), a explorar o plano de fundo da crise ambiental: a verdadeira e profunda crise de sentido do ser humano. O ponto de partida da reflexão de Francisco é o paradigma tecnocrático dominante: a deturpação do uso da boa tecnologia a serviço de interesses que visam meramente o poder, a exploração, o controle da liberdade; um ser humano que se pensa plenamente autônomo, mas, na verdade, “carece de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro de um lúcido domínio de si” (LS 105; 101-105). Esse paradigma é “homogêneo e unidimensional [... onde] o que interessa é extrair o máximo possível das coisas por imposição da mão humana, que tende a ignorar ou esquecer a realidade própria do que tem à sua frente” (LS 106),

Criação e comunhão universal – Laudato Si’ IV

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Continuamos com a reflexão anterior , com um olhar sobre a criação pelo viés bíblico-teológico, conforme o capítulo II da encíclica Laudato Si’ (LS) do Papa Francisco. Toda criatura tem sua importância na grande obra de Deus que é o mundo. De fato, “todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós” (LS 84). Embora o ser humano seja o ápice da Criação, própria “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1,26), ele só o é em relação com os demais seres, em mútua interdependência, e torna-se, para eles, guardião e administrador (cf. Gn 2,15). Poder é aqui sinônimo de responsabilidade e cuidado! Todas as coisas são como um reflexo de Deus (cf. LS 87) e, de fato, “toda a natureza, além de manifestar Deus, é lugar de sua presença” (LS 88). Por isso, “nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sag

O Evangelho da Criação – Laudato Si’ III

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Continuando nossa viagem pela bela e rica encíclica do Papa Francisco, nunca é demais recordar que, para ele, “a ciência e a religião, que fornecem diferentes abordagens da realidade, podem entrar num diálogo intenso e frutuoso para ambas” (LS 62), numa visão de conjunto sobre o universo e a vida humana nele presente e atuante. Considerando esse complexo vital onde se instala a crise ecológica hodierna, se quisermos “construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser preterida, nem sequer a sabedoria religiosa com a sua linguagem própria” (LS 63). Desse modo, no fundo, Francisco conclama “que nós, crentes, conheçamos melhor os compromissos ecológicos que brotam das nossas convicções” (LS 64). A intrínseca relação do homem com a natureza está na base da revelação judaico-cristã, no plano original de Deus Criador desde sempre; nesse sentido é que se torna possível falar de um “Evange

O que está acontecendo com a nossa casa – Laudato Si’ II

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Continuemos a falar da Encíclica Laudato Si’ (LS), do Papa Francisco. Após uma breve introdução, como apontamos no artigo anterior, o Papa dedica o primeiro capítulo a uma visão panorâmica sobre o contexto atual, levantando sobretudo o paradoxo entre a “contínua aceleração das mudanças na humanidade e no planeta” e “a lentidão natural da evolução biológica” (LS18). O Papa constata crescente conscientização, sensibilidade e preocupação para com a situação ambiental da parte de muitos homens e mulheres, o que é forte sinal de esperança para o mundo. A inquietação de Francisco é “tomar dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece com o mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar” (LS 19). Levanta-se, então uma série de questões urgentes: a poluição , fruto da “cultura do descartável”, e sua intensa produção de lixo, que acaba por influenciar, principalmente, a mudança climática, um dos principais desafios da humanidade n

Louvado sejas, Senhor! - Laudato Si' I

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Louvado sejas, Senhor! Com essa aclamação de louvor é que o Papa Francisco abre (e, assim, dá nome à) sua mais recente Encíclica: “Laudato Si’” (LS), inspirado no chamado “Cântico das Criaturas”, de São Francisco de Assis, seu onomástico, patrono da ecologia, tema do documento. O Papa quer chamar a atenção para o cuidado com a casa comum , a irmã e mãe terra que “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou”, pois “esquecemo-nos que somos terra” (cf. LS 2). Retomando o pensamento dos Papas João XXIII, Paulo VI, Bento XVI e de diversas Conferências Episcopais de todo o mundo, Francisco propõe a toda a humanidade, crente (seja qual for a religião) ou não, uma verdadeira “conversão ecológica global” (LS 5), tendo em vista, como pano de fundo, uma renovada e autêntica “ecologia humana” em sua integralidade. Retomaremos mais tarde a este ponto. Muito cara é a contribuição do Patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodox

Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação

O Papa Francisco instituiu, em consonância com o costume da Igreja Ortodoxa, a partir deste ano, para toda a Igreja Católica, em 1º de setembro, o D ia Mundial de Oração pelo Cuidado com a Criação . A proposta vem ao encontro das preocupações apresentadas pelo Romano Pontífice na sua recente Carta Encíclica "Laudato Si'". O texto do Evangelho proposto para a reflexão é Mt 6,24-34, um convite à contemplação serena do mundo, ao cuidado fraternal com todas as criaturas, à confiança filial e ao abandono nas mãos de Deus, o Pai, fonte e criador de toda a vida. Em carta aos Cardeais Turkson e Koch, respectivos presidentes do Pontifício Conselho Justiça e Paz e do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, o Papa delineia os aspectos gerais e as motivações dessa sua ação. O Dia é pensado como "contribuição para a superação da crise ecológica que a humanidade está vivendo", recuperando, a partir do "nosso rico patrimônio espiritual as motivações que