Pular para o conteúdo principal

A fé, nosso tesouro




Uma proposta de reflexão para este XIX Domingo do Tempo Comum, ano C.

A liturgia deste domingo nos convida a ficarmos atentos aos sinais que o próprio Deus nos oferece, para podermos fazer uma experiência autêntica do seu mistério. Para o homem de fé, toda a realidade é simbólica: a natureza, as pessoas, os acontecimentos da vida transmitem algo que nos pode levar a Deus. 

As leituras tecem um elogio aos antepassados na fé. De modo muito particular, a carta aos hebreus elogia Abraão, chamado “o pai na fé” para os judeus, os cristãos e também os muçulmanos. Chamado a partir para uma terra estrangeira, Abraão colocou-se inteiramente à disposição do Senhor, obedecendo-o em tudo. Nem mesmo recusou oferecer o próprio filho em sacrifício. Abraão abandona toda e qualquer certeza, segurança e estabilidade. Na generosidade, de coração aberto, confia no Senhor. Por isso ele é exemplo para todos os que creem. 

Jesus, no evangelho, convida à prontidão, na esperança – “rins cingidos e lâmpadas acesas”. Toda ação do cristão deve estar ligada ao seu compromisso batismal: ser, na realidade do dia-a-dia, sacramento do próprio Cristo. Isso exige atenção aos sinais que o mundo apresenta, pois há muita coisa que não combina com a proposta de Jesus. É preciso discernimento para perceber as contradições da sociedade e iluminá-las com a luz de Cristo. Não é tarefa fácil – somos um “pequenino rebanho”. Isto exige ainda mais de nós. Pequena quantidade, mas grande qualidade: esse é o desejo de Deus! 

No caminho do seguimento de Jesus, uma pergunta deve ser colocada com urgência: onde está nosso coração? É a indicação de hoje do texto de Lucas: “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Que será que norteia nossa vida hoje? Riquezas? Prestígio? Prazeres momentâneos? Sede de poder? Infelizmente, como nos tem ensinado o Papa Francisco, ainda há muitos corações mundanos no seio de nossas comunidades... Mas ainda há solução! Sempre é tempo de escutar a Palavra de Deus e de converter o nosso coração! 

É para isso que o Senhor provê a sua Igreja de pastores: para que nos mantenhamos no caminho certo! Celebrando a vocação ao ministério ordenado, tomamos consciência de que o Senhor nunca abandona o seu povo, mas lhe oferece cuidado e proteção constantes. De fato, ensina o Concílio: “Os presbíteros do Novo Testamento, em virtude da vocação e ordenação, de algum modo são escolhidos entre o povo de Deus, não para serem separados dele ou de qualquer homem, mas para se consagrarem totalmente à obra para a qual Deus os assume. Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir aos homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, por um título especial, que não se conformem a este mundo; mas exige também que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas e procurem trazer a este redil aquelas que não lhe pertencem, para que também elas ouçam a voz de Cristo e haja um só rebanho e um só pastor” (Decreto Presbyterorum Ordinis, n. 3). Por isso é importante rezar pelo bispo e por nossos padres e diáconos. Com a graça de Deus com que são investidos em seu ministério, possam eles nos conduzir com segurança nos caminhos da fé, nos caminhos de Deus.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lavar os pés. De quem? Para quê?

  Pensando na liturgia da Quinta-feira Santa, que já está bem próxima, é impossível não vir à mente a imagem de Jesus lavando os pés dos seus discípulos. Cena forte, impactante, envolvente. Tanto é que muita gente chama a celebração desse dia solene simplesmente de “missa do lava-pés”. Quem nunca se imaginou tendo os pés lavados pelo padre nesse dia? Muita gente chora quando é convidado ou até mesmo pego de improviso para esse gesto. Você também? Porém, o que existe de mais nesse gesto? Lavar os pés era a tarefa dos escravos. Era um sinal de submissão à autoridade de outrem. Jesus que se abaixa e lava os pés dos Doze sinaliza sacramentalmente sua vocação de servo da humanidade, em obediência à vontade do Pai e coerência à sua própria palavra: “Quem quiser ser o maior, se faça o servo de todos” (cf. Mc 10,44). Oferecer água para lavar os pés era significativo gesto de acolhida israelita. No calor escaldante do deserto, ao ser recepcionado a uma casa para uma refeição, especialmen

Micropoema de Semana Santa

  Era noite No coração de Judas Feliz de quem não se encontra sozinho na hora mais sombria Nem sempre há um anjo do céu para nos confortar   --- (Referências a Jo 13,30 e Lc 22,43)

Entre crises e angústias – Amoris Laetitia IX

Continuamos no capítulo VI da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, que trata de lançar luzes sobre algumas perspectivas pastorais no complexo universo da família neste início de milênio. Antes de tudo, é preciso ter a consciência de que o amor é chamado a amadurecer com a experiência da vida. Nesse processo, não existe imunidade a crises, angústias e sofrimentos. É entre dores e obstáculos que a alegria do amor se revela, especialmente quando se trata da vida conjugal e familiar. Na verdade, “cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso saber escutar, afinando os ouvidos do coração” (AL 232). Crises são oportunidades de reaprender o valor do perdão e do sonho. “Cada crise é como um novo ‘sim’ que torna possível o amor amadurecer reforçado, transfigurado, amadurecido, iluminado” (AL 238). É preciso, para tanto, uma atitude de abertura constante e acolhida solidária, para discernir caminhos de libertação e cura de feridas graves e imaturidades. Uma das mais