Nesta Semana
Nacional da Família, celebrada com intensidade em todo o nosso gigante Brasil,
quero começar a apresentar em pequenas doses a riquíssima Exortação Apostólica
Pós-sinodal Amoris Laetitia, do Papa
Francisco, datada de 19 de março de 2016. É um texto longo, profundo e belo,
que merece nossa particular atenção. Além de tudo, uma leitura fácil e
agradável.
Para início
de conversa, é fundamental situar o texto. A Exortação é fruto das conclusões
dos dois últimos Sínodos dos Bispos, que trataram do tema da família (“Os
desafios pastorais da família no contexto da evangelização”, em 2014, e “A
vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, em 2015). O Sínodo
dos Bispos é um recurso criado após o Vaticano II como espaço de debate de
temas atuais da pastoral da Igreja que merecem considerações especiais por seu
destaque e urgência, e elaboração de consequentes diretrizes para seu melhor
desenvolvimento. Não é a primeira vez que o tema da família é abordado pelo
Sínodo: em 1980 os bispos já tinham se debruçado sobre “A família cristã” e em
1981 o Papa S. João Paulo II publicava a Exortação Familiaris Consortio, sobre a missão da família cristã no mundo.
O Ano Santo
da Misericórdia é um marco referencial importante para esta publicação. Diz o
próprio Papa: “vejo [a Exortação Amoris
Laetitia] como uma proposta para as famílias cristãs, que as estimule a
apreciar os dons do matrimônio e da família e a manter um amor forte e cheio de
valores... [e] se propõe a encorajar todos a serem sinais de misericórdia e
proximidade para a vida familiar” (AL 5).
A Exortação
Apostólica é influenciada também pelo Motu Proprio Mitis Iudex Dominus Iesus, publicado em 15/08/2015, documento pelo
qual o Papa modifica o Código de Direito Canônico ao simplificar os processos
de nulidade matrimonial. O Motu Proprio é uma decisão autônoma do Papa (tomada
não sem antes consultar peritos no assunto), fruto das reflexões da assembleia
sinodal de 2014.
Francisco,
claro, faz amplos recursos ao magistério eclesiástico, desde a Constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II
que data de 07/12/1965. Em sua segunda parte, ao tratar de “alguns problemas
mais urgentes” na relação Igreja – mundo contemporâneo, ela dedica logo o
primeiro capítulo à “promoção da dignidade do matrimônio e da família” (GS
47-52), apontando, sobretudo, luzes para a reta compreensão e vivência do amor
conjugal e familiar. Francisco cita inúmeras vezes documentos de Paulo VI e Bento
XVI, mas, sem dúvida, a grande referência para suas considerações é o ensinamento
de S. João Paulo II, com amplas citações da Exortação Familiaris Consortio (sobre a qual comentamos acima) e, ainda mais,
das catequeses das audiências gerais das quartas-feiras, proferidas entre 1979
e 1984, sobre “O amor humano no plano divino”, conhecidas popularmente como “Teologia
do Corpo”, em que o Papa desenvolve uma vasta reflexão filosófico-teológica sobre
o ser humano e a vivência do amor expressa, de modo ímpar, em sua condição
sexual, à luz do mistério de Deus. Entre as duas últimas assembleias sinodais,
o próprio Francisco desenvolveu nas suas catequeses das quartas-feiras um ciclo
de reflexões sobre a constituição da família e aspectos singulares da vida
familiar (no Brasil, publicadas sob o título “A família gera o mundo”, de
Paulus Editora).
Por aí já
dá para sentir a riqueza e a beleza desse documento pontifício. Mais uma vez o
Papa Francisco nos surpreende com sua capacidade de ouvir os clamores dos homens
e mulheres de todo o mundo, compreender os “sinais dos tempos” e oferecer uma
palavra segura e um caminho concreto para a Igreja deste início de milênio. Mas,
para quem espera grandes revoluções, adianto: a Igreja bebe de uma sabedoria edificada
no tempo, que ensina a esperar,
refletir, olhar mais a fundo para descobrir as verdadeiras questões e
motivações, muito além de nossas inquietações de momento... Papa Francisco se
encaixa bem naquele dito de Jesus: “é como um pai de família, que tira do seu
tesouro coisas novas e velhas...” (Mt 13,52).
Excelente reflexão. Obrigado pela partilha desse documento tão belo do Papa Francisco. Parabéns.
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