“Bem-aventurada aquela que acreditou!”




Neste domingo a Igreja celebra a solenidade da Assunção da Virgem Maria. É uma das festividades marianas mais antigas e populares, tanto no Oriente quanto no Ocidente cristão. Na glória de Maria a Igreja vê um claro reflexo da glória do Senhor e antevê a sua própria glorificação, pelo poder salvador de Cristo Jesus.

Apoiado no testemunho da Tradição e do Magistério eclesial, o Papa Pio XII, em 01/11/1950, publicou a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, proclamando solenemente o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Pio XII associa-o, sobretudo ao dogma da Imaculada Conceição, definido por Pio IX em 1854: “De fato, esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte quando chegar o fim dos tempos... Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até o fim dos tempos” (MD 4-5). Não existem, claro, testemunhos bíblicos que comprovem a Assunção de Maria, mas a liturgia dessa festa nos permite contemplar com clareza o fundamento dessa verdade. 

O capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, de onde é retirado o trecho da segunda leitura, é uma espécie de “teologia da ressurreição”: é esse mistério divino que fundamenta a fé cristã. Cristo é o primeiro a ressuscitar, “primícias” de uma multidão que será salva pela fé em seu poder redentor. Entre os que “pertencem a Cristo”, sem dúvida, está sua mãe, “bendita entre as mulheres” e “bem-aventurada” por sua fé, como explicita o evangelho. 

Maria crê no Deus que age na história do seu povo, inverte a lógica dos poderes deste mundo e apresenta uma outra via de felicidade que só se compreende e alcança pela fé – é o que Maria canta no célebre Magnificat. “Lembrando-se de sua misericórdia”, Deus olha os pequenos e pobres e lhes dá uma nova e inaudita dignidade: de tornarem-se filhos de Deus no Filho Eterno, participantes da esperança e da glória do próprio Deus. Crer isso é um grande desafio. Exige coragem e sacrifício diante das provações e perseguições. A imagem do dragão no Apocalipse representa todos os poderes contrários ao Evangelho, que buscam destruir a mensagem de salvação de Jesus, bem como seus mensageiros.

A “mulher vestida de sol” é imagem da Igreja nascente: seu brilho é reflexo da luz de Cristo, sua boa-nova de salvação, que rompe com o poder do mal, da morte e do pecado. Ela é perseguida porque não se conforma aos “podres poderes” do mundo, que prefere viver sem Deus. Nessa imagem os cristãos também veem Maria: ela, a Mãe do Salvador, Mãe de Deus, Auxílio dos cristãos; nela, a Imaculada, resplandece com toda a força a beleza da graça salvadora de Deus, que vence o pecado e gera a vida. Maria traz Jesus ao mundo “na carne”; a Igreja traz Jesus ao mundo pelo anúncio da Palavra e pela celebração dos sacramentos. Assim, o Redentor continua abraçando toda e cada criatura e conduzindo-nos todos para a Salvação, o Reino definitivo.

O Concílio Vaticano II dedica todo o último capítulo da Constituição Lumen Gentium, sobre a natureza da Igreja, a Maria. A Igreja reconhece o papel ímpar de Maria na vida de Jesus e da Igreja, apresentando-a como “Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira” (LG 62), intimamente unida à Igreja e à obra de salvação de seu Senhor; por isso ensina que “a verdadeira devoção não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos incita ao amor filial para com a nossa Mãe, e à imitação das suas virtudes” (LG 67). E como os primeiros cristãos, a Igreja dos nossos tempos vê em Maria o sinal de sua própria realização em plenitude: “Do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é imagem e primícias da Igreja, que há de atingir a sua perfeição no século futuro, assim também já agora na terra, enquanto não chega o dia do Senhor, ela brilha, como sinal de esperança segura e de consolação, aos olhos do povo de Deus peregrinante” (LG 68).

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