Louvado sejas, Senhor! Com essa aclamação de louvor é que o Papa
Francisco abre (e, assim, dá nome à) sua mais recente Encíclica: “Laudato Si’” (LS), inspirado no chamado
“Cântico das Criaturas”, de São Francisco de Assis, seu onomástico, patrono da
ecologia, tema do documento. O Papa quer chamar a atenção para o cuidado com a casa comum, a irmã e mãe terra que “clama
contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos
bens que Deus nela colocou”, pois “esquecemo-nos que somos terra” (cf. LS 2).
Retomando o pensamento dos Papas
João XXIII, Paulo VI, Bento XVI e de diversas Conferências Episcopais de todo o
mundo, Francisco propõe a toda a humanidade, crente (seja qual for a religião) ou
não, uma verdadeira “conversão ecológica global” (LS 5), tendo em vista, como
pano de fundo, uma renovada e autêntica “ecologia humana” em sua integralidade.
Retomaremos mais tarde a este ponto.
Muito cara é a contribuição do
Patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa Grega, na construção dessa Encíclica,
que conta com diversos trechos de discursos seus. Sobretudo, “Bartolomeu chamou
a atenção para as raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais, que nos
convidam a encontrar soluções não só na técnica, mas também em uma mudança do
ser humano” (LS 9). Tal é o caminho a que o Francisco vai se dedicar em toda a Laudato Si’. É da tradição oriental, e
em comunhão com ela, que o Papa toma a iniciativa de promover o Dia Mundial de
Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado pela primeira vez pelos católicos no
último 1º de setembro.
Considerando “o mundo sacramento de
comunhão” (LS 9), Francisco propõe como modelo a vida do santo de Assis, “um
místico e um peregrino que vivia com simplicidade e em uma maravilhosa harmonia
com Deus, com os outros, com a natureza e com si mesmo” (LS 10). O testemunho
de São Francisco de Assis dá as pistas para uma “ecologia integral”, que vai além
da biologia, dirigindo-se à própria essência do ser humano (cf. LS 11). Frente
ao mundo dominador, consumidor e explorador voraz dos recursos naturais, “se
nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, então brotarão de modo espontâneo
a sobriedade e a solicitude. A pobreza e a austeridade de São Francisco não eram
simplesmente um ascetismo exterior, mas algo mais radical: uma renúncia a fazer
da realidade um mero objeto de uso e domínio” (LS 11). Pelo contrário, o mundo “é
um mistério gozoso que contemplamos na alegria e no louvor” (LS 12).
O grande apelo do Papa Francisco
é, enfim, “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento
sustentável e integral” (LS 13), num debate e diálogo fraternos com o fim de
estabelecer uma “nova solidariedade universal” (LS 14) em atitudes que integrem
“o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a
realidade que o rodeia” (LS 15). Assim poderemos trilhar um caminho seguro na
promoção da vida e da dignidade de toda a Criação, dom de Deus e
responsabilidade humana.
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