Essa imagem acima eu a recolhi há
alguns dias numa publicação do Instagram. E ela me fez pensar agudamente.
Existe uma disciplina na teologia
chamada “cristologia”. É o estudo mais direcionado sobre Jesus: sua vida,
mensagem, compreensão, atualidade. Em um dos esforços de atualização desse
pensamento surge a chamada “cristologia da libertação”, que busca uma visão
ampla e bem prática do mistério de Cristo na vida do povo que sofre e espera
redenção nesta vida. É nesse horizonte que se situa a imagem em questão.
Uma das fortes expressões dessa
teologia é o esforço de enxergar Cristo Crucificado no rosto dos crucificados
da história. E nessa terrível pandemia, que parece cada vez mais longe do fim, temos
novas cruzes, crucificados e algozes. Neles se renova e atualiza o mistério da
Paixão de Cristo Jesus.
Os infectados são crucificados.
Carregam a dolorosa cruz de uma doença implacável, imprevisível, incurável. Seu
carrasco é invisível, perigoso e letal: um vírus, uma criatura sem
inteligência, sem medos, sem preferências, sem acepção de pessoas.
Os profissionais de saúde são
crucificados. Quão extensa é a gama de profissionais de enfermagem, medicina,
serviços gerais, motoristas, gestores em diversos níveis... comprometidos com a
defesa da vida a todo custo. Quanto sangue, suor, lágrimas, preocupações,
esforços... Nenhum deles é em vão. Atuam no silêncio resiliente. Heróis e
heroínas sob máscaras e capuzes. São torturados pela falta de estrutura e
investimento, escravizados pelas duras condições de trabalho e de vida. Dão a
vida pelo irmão. Amam como Jesus mandou.
As famílias são crucificadas. Sentem-se
impotentes diante da dor, do sofrimento, da impossibilidade de acompanhar os
que necessitam de internação hospitalar, do afastamento dos que precisam ficar
isolados em casa, da falta de notícias e da desinformação. Vítimas da mentira,
da negligência, da corrupção, da falta de um projeto comprometido com a vida
plena para todos.
Os mortos. Asfixiados no
silêncio sorrateiro da dor mais profunda. Apontam para o coração de Deus, que
de tanta dor, se cala diante do sofrimento inocente.
Quantas as Marias que choram os que
partiram... quantas as Verônicas que se esforçam por aliviar os sofrimentos até
a hora derradeira... quantos os Cireneus que ajudam a carregar o fardo
insuportável do medo da morte... quantos Joãos e Marias acompanham tristes de
longe, murmurando orações... quantos Josés e Nicodemos se arriscam suplicando corajosamente
ações concretas em favor dos indefensáveis... quantos Pilatos, covardes, lavam
as mãos, se escondendo desse espetáculo de horrores que, com sua omissão,
ajudam a criar. Onde você se encaixa?
Se a Paixão e Morte tomam lugar,
também a Ressureição tem o seu momento. A última palavra é sempre de Deus. Há
mais vida além da morte. Que sejamos capazes de conversão e de esperança.
Reflexão muito interessante!!!
ResponderExcluirQue bela reflexão como sempre.
ResponderExcluirEm seu Programa Caminhos de Espiritualidade do dia 16/02/20 vc disse a seguinte frase: "Uma coisa porém é certa: feridas são abertas e nem sempre cicatrizam e dói em alguém, é preciso remediar!"
Precisamos remediar enquanto é tempo, que a dor do irmão tenha importância tb e não sejamos omissos a qualquer situação de tristeza e dor.
Muito linda e forte , essa reflexão.
ResponderExcluirCrítica e profecia! Excelente reflexão. Atual e muito verdadeira. Parabéns
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