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O mistério da Cruz e Ressurreição de Jesus Cristo



“Eis o mistério da fé!” A cada Santa Missa escutamos o sacerdote pronunciar esta expressão, após repetir com devoção as palavras e gestos de Jesus na Última Ceia, trazendo-o de volta, pela fé, ao altar, para que o mundo jamais fique privado de sua presença misericordiosa.

Mas, no Santo Sacrifício, o que é mesmo este mistério da fé? A aclamação de toda a assembleia nos dá a resposta: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” O que se descortina a nossos olhos não é uma mágica, mas um mistério profundo que dá o significado verdadeiro da nossa vida e da nossa fé: a salvação de Deus se oferece a nós na vida doada de Jesus pela salvação do mundo inteiro!

O querigma da Igreja é sempre um e o mesmo, como nos dizeres do Apóstolo Paulo: “De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3s). No coração de nossa fé está esta experiência radical do amor de Deus, capaz de se entregar inteiramente por nós, para nossa salvação, para que vivamos para sempre junto a Ele. 

As liturgias do Tríduo Pascal nos ajudam a compreender – se não pela razão, pela vivência – o que essa entrega de amor implica para a comunidade dos discípulos de Jesus. 

Toda a vida de Jesus é partilha e doação, entrega e serviço, dom e oblação – é o que celebramos na Quinta-feira Santa. O lava-pés é sinal que resume toda a obra de Jesus, suas palavras e gestos em favor da vida plena para todos.

A vida só faz sentido quando se torna gesto concreto de amor – é o que expressa a liturgia da Sexta-feira Santa, mostrando a Cruz como vitória sobre toda forma de mal que possa existir neste nosso mundo. O amor incondicional é a resposta de Deus ao drama do pecado e da morte. 

O repouso do Sábado Santo ensina que o silêncio de Deus diante das injustiças humanas é recheado de um sabor de esperança. É preciso atenção para captar os sinais da vida que irrompe corajosamente em meio ao caos.

Na Vigília Pascal, contemplamos todo o esplendor da ação divina, que desde os primeiros capítulos da história do mundo, está a conduzir todas as coisas à plenitude em Cristo Jesus. A Ressurreição inaugura um novo tempo nas relações entre os seres humanos e Deus, redime o universo inteiro e convoca toda forma de vida a uma nova aliança no amor irrestrito do Cordeiro.

O esforço da vida deve se dar em traduzir a experiência de fé celebrada na liturgia, em especial na Eucaristia, em esperança concreta para a rotina de cada dia. Uma nova luz, um novo sabor, um novo olhar: é isso que Deus nos oferece ao nos permitir celebrar o coração do mistério da nossa fé. 

Ele vem sempre ao nosso encontro, “Ele está no meio de nós”!

Uma Santa Páscoa para todos!

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