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Entre ficar e mudar



Dias atrás estive escutando uma playlist aleatória no YouTube com os amigos, e tocou a mais que conhecida “Metamorfose ambulante”, de Raul Seixas. Hoje acordei pensando nessa música. Há tempos, sigo um ritual matinal: desperto, sento na minha cama, rezo, vou ao banheiro e me olho no espelho. Não que eu tenha pelo que me envaidecer contemplando minha aparência (na verdade, tenho certos problemas com essa questão de autoimagem), mas gosto de contemplar as mudanças que vão acontecendo. É sobre isso que deu vontade de falar hoje.

Séculos antes de Cristo, a filosofia grega nos seus inícios já se colocava uma questão interessante, a partir da observação do mundo: ao mesmo tempo que tudo muda, existe algo que permanece o mesmo diante das variações – para os iniciados: o velho dilema entre Heráclito e Parmênides. Também dentro em nós acontece isso. Existe sempre algo que permanece (essência, alma, identidade, ser – pode chamar como quiser) diante das inúmeras variações e transformações que a vida exige e proporciona. As mudanças, na verdade, nos transformam em mais daquilo que verdadeiramente somos.

Confesso que sou um amante da mudança. Quem me conhece pessoalmente e há algum tempo sabe do que estou dizendo. Acho fascinante a capacidade que temos de nos reinventar diante do caos e da graça de cada dia. É sempre bom contemplar os progressos que o aprendizado com a vida pode proporcionar. A maravilha de se tornar uma versão melhor de si mesmo não tem preço.

Na verdade, existe um preço sim. Cada escolha implica abrir mão de um número sem limite de possibilidades. Optar por algo significa deixar de escolher um outro tanto. Por isso é sempre bom questionar as escolhas e avaliar suas consequências – a cada ação uma reação, segundo a física (estou enferrujado, mas acho que é uma das leis de Newton, que sempre confundo). Cada escolha diz muito de quem somos.

Já assisti mudanças e mudanças. Minhas e dos outros. Me entristeço quando não percebo evolução. Em mim e nos outros. Às vezes, somos obstinados em caminhar para o que não queremos, para o que não nos faz bem. Nos colocamos em fuga. O que é que nos move nessa direção? Medos? Frustrações? Inseguranças? É preciso cuidado.

Mantenha-se sempre atento e aberto às mudanças! Tente fazer as melhores escolhas! Seja livre para assumir os riscos e consequências! A vida se faz assim.

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