Pular para o conteúdo principal

Maria, Mãe de Deus, Mãe da Misericórdia


Começamos o novo ano civil com a liturgia que encerra a Oitava do Natal e nos convida a contemplar a singeleza de Maria, a Mãe de Deus, Mãe da Misericórdia. A solenidade de hoje é um chamado a voltar nossa atenção à simplicidade feliz do presépio e aprender de Jesus e Maria o jeito e o projeto de Deus.

Em Jesus se cumpre o desígnio do Pai: nele todos recebemos a “filiação adotiva” (Gl 4,5). Chegado o “tempo previsto” (Gl 4,4), “estes tempos, que são os últimos” (cf. Hb 1,2), pelo Filho Unigênito se manifesta e nos é concedido o Espírito que nos faz chamar Deus de Pai, Papai, Paizinho, “Abbá” (Gl 4,6)! Tudo isso por obra da graça de Deus (Gl 4,7)!

Em Jesus a humanidade alcança a plenitude da bênção divina: Ele mesmo é a face de Deus que se volta para nós (cf. Nm 6,25s), Ele é o Príncipe da Paz (Is 9,5), Ele é “o rosto da misericórdia do Pai” (MV 1) – “Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão” (MV 8)!

Ao voltarmo-nos para a cena do evangelho desta solenidade (Lc 2,16-21), deparamo-nos com a figura ímpar de Maria no presépio. Ela escuta as maravilhas de Deus, carrega a grande Maravilha em seu próprio seio, e deixa-se tomar pela profundidade do mistério: “Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). No silêncio da contemplação é que Maria descobre o maior dos tesouros: a revelação da profundidade do mistério da misericórdia de Deus; no silêncio do seu coração a Palavra encontra terreno fecundo para gerar vida, e vida abundante (cf. Jo 10,10).

Deixo que o Papa Francisco nos fale: “O pensamento volta-se agora para a Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne... Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus... Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém” (MV 24).

No início deste ano, deixemo-nos guiar pelo Espírito de Deus para que, em Jesus Cristo, trilhemos o caminho do Pai Misericordioso, caminho da paz, da justiça, do amor fraterno, da graça e da verdade. Como Maria, deixemo-nos inundar por esse mistério, e nossa alma cante, em todo tempo e lugar, as maravilhas do Amor!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lavar os pés. De quem? Para quê?

  Pensando na liturgia da Quinta-feira Santa, que já está bem próxima, é impossível não vir à mente a imagem de Jesus lavando os pés dos seus discípulos. Cena forte, impactante, envolvente. Tanto é que muita gente chama a celebração desse dia solene simplesmente de “missa do lava-pés”. Quem nunca se imaginou tendo os pés lavados pelo padre nesse dia? Muita gente chora quando é convidado ou até mesmo pego de improviso para esse gesto. Você também? Porém, o que existe de mais nesse gesto? Lavar os pés era a tarefa dos escravos. Era um sinal de submissão à autoridade de outrem. Jesus que se abaixa e lava os pés dos Doze sinaliza sacramentalmente sua vocação de servo da humanidade, em obediência à vontade do Pai e coerência à sua própria palavra: “Quem quiser ser o maior, se faça o servo de todos” (cf. Mc 10,44). Oferecer água para lavar os pés era significativo gesto de acolhida israelita. No calor escaldante do deserto, ao ser recepcionado a uma casa para uma refeição, especialmen

Micropoema de Semana Santa

  Era noite No coração de Judas Feliz de quem não se encontra sozinho na hora mais sombria Nem sempre há um anjo do céu para nos confortar   --- (Referências a Jo 13,30 e Lc 22,43)

Entre crises e angústias – Amoris Laetitia IX

Continuamos no capítulo VI da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, que trata de lançar luzes sobre algumas perspectivas pastorais no complexo universo da família neste início de milênio. Antes de tudo, é preciso ter a consciência de que o amor é chamado a amadurecer com a experiência da vida. Nesse processo, não existe imunidade a crises, angústias e sofrimentos. É entre dores e obstáculos que a alegria do amor se revela, especialmente quando se trata da vida conjugal e familiar. Na verdade, “cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso saber escutar, afinando os ouvidos do coração” (AL 232). Crises são oportunidades de reaprender o valor do perdão e do sonho. “Cada crise é como um novo ‘sim’ que torna possível o amor amadurecer reforçado, transfigurado, amadurecido, iluminado” (AL 238). É preciso, para tanto, uma atitude de abertura constante e acolhida solidária, para discernir caminhos de libertação e cura de feridas graves e imaturidades. Uma das mais