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O valor da bênção na Igreja


Hoje é dia de São Brás, famoso protetor contra os males da garganta. Muitos fiéis acorrem à Santa Missa para receber a chamada “bênção da garganta” nas igrejas do mundo inteiro. Exageros supersticiosos à parte, cabe-nos uma pergunta: que significam as bênçãos para a Igreja? Vamos vasculhar a introdução geral do Ritual de Bênçãos (RB) para tentar entender melhor seu valor e sua riqueza.

“Fonte de toda bênção é Deus, bendito acima de tudo, o Deus de bondade, que fez todas as coisas para cobrir de bênçãos as suas criaturas” (RB 1). Todo o mundo criado é sinal e manifestação da bênção divina! O próprio ser de Deus é bondade, é bênção, é misericórdia! Mesmo a incrível força do pecado não nos consegue arrebatar do raio da bênção divina (cf. Rm 8,31-39), pois Deus é Amor (cf. 1Jo 4,16b).

“Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, o Pai enviou seu filho e, por meio dele, que se fez homem, de novo abençoou os homens com toda sorte de bênçãos” (RB 2; cf. Hb 1,1-4; Gl 4,4; Ef 1,3). Cristo é a “bênção máxima de Deus Pai” (RB 3), é o ápice da revelação do Amor (cf. DV 4): nele somos abençoados, remidos, libertos, ressuscitado para uma vida nova, segundo o Espírito (cf. Rm 8,1-17).

A bênção ou bendição é um ato de louvor, em que se reconhece o favor divino e se invoca sempre e de novo o seu auxílio sobre a humanidade. “Quando Deus abençoa, por si mesmo ou por meio dos homens, o que está em jogo sempre é a promessa do seu auxílio, o anúncio de sua graça e a proclamação de sua fidelidade ao pacto feito. E quando os homens o bendizem, é o louvor àquele a quem declaram bom e misericordioso” (RB 6). Uma leitura atenta dos salmos nos permite ver essa dinâmica com clareza.

“Sem dúvida, as bênçãos, como ato de bendizer, referem-se em primeiro lugar e principalmente a Deus, cuja grandeza e bondade exaltam; mas porque comunicam benefícios divinos, elas visam aos homens, que Deus governa e protege com providência; finalmente, as bênçãos se dirigem também às coisas criadas, com que Deus abençoa os homens de modo abundante e variado” (RB 7).

A Igreja, assim, faz das mais diversas fórmulas de bênção uma ocasião para “convidar os homens a louvarem a Deus, atraí-los a invocarem sua proteção, exortá-los a fazer por merecerem sua misericórdia pela santidade da vida; enfim, rezar por eles, de tal modo que todas essas orações redundem no recebimento de benefícios divinos” (RB 9).

Em suma: toda bênção vem de Deus, que é sua origem e sua fonte! A celebração ritual de uma bênção, antes de tudo, é o reconhecimento da bondade e da misericórdia de Deus para conosco. É um verdadeiro ato de louvor, que nos insere na dinâmica da salvação e da gratuidade do amor do Pai por meio de Cristo Jesus, na força do Espírito.

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