O primeiro capítulo do livro “Recuperar o projeto de Jesus”
trata do ambicioso processo de renovação pastoral da Igreja, a começar no seio
de cada pequena comunidade concreta de fiéis, com vistas a atingir “um nível
novo de vida cristã mais inspirada e motivada por Jesus” (p. 15).
Para começar o caminho é necessário olhar para o nosso tempo
atual, buscando identificar suas características marcantes e seus apelos
urgentes. O desejo de um mundo melhor para todos se impõe num contexto de
abandono da referência a Deus, que contrasta gravemente com a incapacidade de a
humanidade dar a si mesma a salvação, a justiça, a liberdade. Isso acarreta uma
triste crise da esperança que gera uma grave “globalização da indiferença”,
como gosta de assinalar o Papa Francisco, que exige de nós uma renovação
evangélica a partir de nossas comunidades cristãs concretas.
Impulsionar esse ambicioso processo de renovação exige a
adoção de novas opções pastorais, mais decididas e eficazes. Trata-se de um
verdadeiro e precioso caminho de conversão a ser trilhado com fidelidade e
franqueza por todos os que se dispõem a viver com autenticidade sua vocação de
discípulos missionários de Jesus Cristo.
Para tanto, a primeira e mais importante tarefa que se impõe
é retomar a centralidade de Jesus na vida pessoal e eclesial, sob a guia do
Espírito Santo, a partir da força original do evangelho. Recolocar Jesus no
centro da comunidade, a partir do contato direto de cada pessoa com o evangelho
é fundamental para ganhar intimidade com o Mestre e, desse modo, partilhar da
sua vida, suas preocupações, angústias e escolhas. É a partir desse contato
decisivo que se pode desdobrar a tarefa missionária, “encontrar” e “levar”
Jesus em cada realidade da vida humana.
Nessa reproposta do essencial é que se descobre a vontade de
Deus na dinâmica do seu Reino, e a comunidade passa a viver como presença
alternativa no meio do mundo, abrindo caminhos de esperança em forte atitude
de indignação profética diante das desigualdades e contradições da sociedade em
que vivemos. Recuperando a proposta humanizadora do Reino de Deus, a comunidade
é capaz de promover uma união de forças para tornar o mundo cada vez mais justo
e solidário, tal como sonha e anuncia o Mestre Divino.
Movida pela compaixão, a Igreja se torna “comunidade
samaritana”, presença misericordiosa de Deus em meio aos sofrimentos e dificuldades
da vida cotidiana, especialmente daquelas “periferias existenciais” que não se
tem muita coragem de frequentar, numa preocupação autêntica pelos últimos. Essa
clara perspectiva de comunhão e fraternidade se traduz em uma vivência de
corresponsabilidade com a vida e a dignidade de cada homem e mulher e com a
Criação inteira, atingindo todos os mecanismos e estruturas de poder da
sociedade e da Igreja.
***
Referência: PAGOLA, José Antônio. Recuperar o projeto de
Jesus. Tradução de Oscar Ruben Lopez Maldonado. Petrópolis: Vozes, 2019.
As considerações aqui trazidas sempre me ajudam em algumas inquietações. A reflexão do capítulo de hoje me fez analisar e repensar em questões relacionadas a retomada gradual dos trabalhos pastorais em nossas comunidades, em virtude da pandemia.
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