Liturgia: Festa da Vida!





Alguns pensamentos sobre a liturgia deste 5º Domingo da Quaresma: Ez 37,12-14; Sl129 (130); Rm 8,8-11; Jo 11,1-45

A liturgia dos domingos da quaresma deste ano A apresentam um claro acento batismal. E as leituras de hoje completam esse ciclo de modo solene e muito profundo. A morte é a grande imagem da liturgia de hoje. Para muitos de nós, a morte causa medo, angústia, tristeza... mas o que se quer ressaltar nas leituras de hoje não é a morte por si mesma, mas a vida que nasce a partir das diversas experiências de morte que possamos ter.

O profeta Ezequiel, na primeira leitura, anima o povo que sofre no exílio na Babilônia. Para Israel, o exílio é verdadeira experiência de morte: longe de sua terra, do templo, sem rei ou sacerdote, no meio de povos pagãos... a fé corre grave risco! O exílio, comparado a uma “sepultura”, porém, não é a última palavra: Deus levará o povo de volta, e a esperança do retorno à terra, “ressurreição”, reanima a fé do Povo de Deus.

É esse o canto de esperança que brota das profundezas, que o salmista entoa. Israel não desanima, pois o Senhor é graça e salvação, e não abandona seu povo. A tristeza e angústia de quem tem fé se transformam em espera vigilante pela ação do Deus libertador.

Pelo batismo o Espírito de Deus é quem conduz a nossa vida. São Paulo, na segunda leitura, nos vem recordar esse mistério. Nossa vida, em Cristo, encontra um sentido maior e mais profundo; nossas ações devem promover um novo mundo de solidariedade e fraternidade. A fé que habita em nossos corações, pela graça do Espírito Santo, que recebemos no sacramento do batismo, nos leva a superar os medos e vícios (a “carne”), e nos abre para relações mais sinceras, para a edificação da comunidade segundo o mandamento de Jesus: o amor.

Na iminência da Páscoa do Senhor, o episódio da ressurreição de Lázaro, apresentado por João no evangelho, é ao mesmo tempo dramático e revelador de uma profunda esperança: mostra Jesus que chora e se compadece da dor humana, e, por isso, vem em auxílio da nossa fraqueza e nos consola com a sua presença misericordiosa; os discípulos aparecem meio contrariados e amedrontados, com a morte de Lázaro, amigo de Jesus, mas também com a morte do próprio Mestre, que se aproxima; a profissão de fé de Marta revela o projeto de Deus para todos os homens e mulheres deste mundo – Jesus é a ressurreição e a vida, o Filho de Deus que nos abre as portas do coração misericordioso do Pai e se faz guia e luz no caminho para Ele.

É preciso, porém, deixar que muita coisa morra em nós para alcançarmos a plenitude de Deus: medos, insegurança, apegos, mágoas, egoísmo... A comunidade dos discípulos de Jesus é itinerante, missionária, preocupada com a urgência do Reino de Deus: deve ir ao encontro dos que sofrem e mesmo morrem sem esperança. A Igreja, como sempre recorda o Papa Francisco, deve ser sinal de esperança e vida para o nosso mundo atribulado, marcado pela cultura do descartável e da morte. Que nesta quaresma, nosso coração se torne mais dócil à Palavra de Deus e se abra ao cuidado da vida, em todas as suas dimensões, a exemplo de Jesus, nosso Senhor.

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