Uma ecologia integral – Laudato Si’ VI


No capítulo IV da Encíclica Laudato Si’ (LS), que estamos vendo há algumas semanas, o Papa Francisco delineia uma reflexão acerca de diferentes elementos para uma ecologia integral, que integre os fatores ambientais, antropológicos, econômicos e sociais.

A premissa é o grande refrão de toda a encíclica: “tudo está interligado” (citado 10 vezes: nn. 16, 70, 91, 92, 117, 120, 137, 138, 142, 240), o que leva à necessária busca de “uma visão mais ampla da realidade” (LS 138) em busca de “soluções integrais” para a “única e complexa crise socioambiental” (LS 139) dos nossos dias. O Papa insiste no retorno ao humanismo “para uma visão mais integral e integradora” dos distintos saberes humanos em vista de uma sadia “ecologia econômica” (LS 141).
Na mesma linha, considera Francisco que “a ecologia social é necessariamente institucional e progressivamente alcança as diferentes dimensões, que vão desde o grupo social primário, a família, até à vida internacional, passando pela comunidade local e a nação” (LS 142).

Ao abordar a questão da cultura, “especialmente no seu sentido dinâmico e participativo” (LS 143), o Pontífice sugere repensar a relação do ser humano com o meio ambiente não com “soluções meramente técnicas”, mas levando em conta “o protagonismo dos atores sociais locais a partir de sua própria cultura” (LS 144).

Tudo isso deve ser posto em discussão para que se chegue a uma nova e melhor qualidade de vida de todos os seres humanos – esse é o verdadeiro progresso! Esse processo o Papa chama de ecologia da vida cotidiana, que leva em consideração uma “ecologia humana que os pobres conseguem desenvolver, no meio de tantas limitações” (LS 148), especialmente nos ambientes urbanos (LS 149-153) mas também nas áreas rurais (LS 154).

“A ecologia humana implica também algo de muito profundo que é indispensável para se poder criar um ambiente mais dignificante: a relação necessária da vida do ser humano com a lei moral inscrita na sua própria natureza”, que passa necessariamente pela aceitação do corpo na diferenciação sexual e na acolhida do outro como dom e alteridade (LS 155).

Além disso, “a ecologia humana é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social” (LS 156), que pressupõe e promove o desenvolvimento integral da pessoa, a partir do princípio de subsidiariedade, e culmina na paz social e na efetiva justiça distributiva (LS 157). Nessa relação, “o princípio do bem comum torna-se imediatamente, como consequência lógica e inevitável, um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres” (LS 158).

E não se pode pensar em uma aplicação apenas imediata desses princípios e opções: “já não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade intergeracional” (LS 159), sem levar em conta os que virão ao mundo depois de nós! Essa perspectiva ao mesmo tempo nos compromete e desafia. “A dificuldade em levar a sério este desafio tem a ver com uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioração ecológica” (LS 162). Exige de nós ainda mais conversão!

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