Espiritualidade conjugal e familiar – Amoris Laetitia XII

 


O último capítulo da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, do Papa Francisco, que completa 5 anos de publicação, nos coloca diante da proposta de uma bela e profunda espiritualidade conjugal e familiar. O amor da vida de família tem dimensões próprias, que revelam o amor de Deus para com todos os seus filhos e filhas.

Acima de tudo, “a Trindade está presente no templo da comunhão matrimonial” (AL 314). Deus habita a vida de cada família, se faz presença em cada lar, sente junto com cada um de seus membros as aflições, consolos, dúvidas, sofrimentos, angústias, alegrias, esperanças – situações concretas do cotidiano da vida. E nesse horizonte é que se pode compreender que “a espiritualidade matrimonial é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor divino” (AL 315), que se manifesta na realidade do amor familiar.

Cristo deve ser sempre o centro da vida da família. É o seu amor redentor que a unifica na fé, na caridade, na verdade. Desse modo, “os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena de sua Ressureição” (AL 317). Esta fé se reforça na valiosa prática da oração em família, redescoberta como necessidade nesses duros tempos de coronavírus que enfrentamos. Na celebração dominical da eucaristia, de modo particular, é que se reforça e reafirma a espiritualidade da pequena “Igreja doméstica” que é cada família.

Na fidelidade da mútua pertença dos cônjuges, coração do pacto conjugal e verdadeiro estilo de vida matrimonial, se manifesta aquela mais central e interior pertença ao Senhor. Na unidade indivisível do coração, o amor encontra verdadeiro espaço para desenvolver as capacidades humanas em sua plenitude: confiança, liberdade, autonomia, caridade. E ainda mais: “O espaço exclusivo, que cada um dos cônjuges reserva para a sua relação pessoal com Deus, não só permite curar as feridas da convivência, mas possibilita também encontrar no amor de Deus o sentido da própria existência” (AL 320).

Pelo dom da fecundidade, o casal participa da obra da Criação do próprio Deus! Na capacidade gerar e cuidar, pai e mãe se transformam em “sacramento”, sinal e reflexo, do amor do Senhor para com seus filhos. “Por isso, ‘querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só’” (AL 321). No cuidado responsável de uns com os outros se manifesta a caridade e misericórdia do próprio Senhor, que ama cada pessoa individual e confere a ela uma dignidade especial de filho e filha, à sua imagem e semelhança.

Saindo dos limites de seu núcleo mais estrito, a família é chamada a viver a hospitalidade com dom e compromisso, como verdadeira missão que acolhe toda vida humana e se esforça em fazer o bem indistintamente, como Jesus. Esse deve ser um aspecto forte de sua espiritualidade, de sua intimidade e participação na vida divina. É dessa forma que “a família vive sua espiritualidade própria, sendo ao mesmo tempo uma igreja doméstica e uma célula viva para transformar o mundo” (AL 324).

Claro que “nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada de uma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar” (AL 325). E aqui está o desafio e a graça da vida e da vocação da família: ser capaz de crescer no amor, com alegria! Se as realidades do mundo contemporâneo nos desafiam, nos anima a esperança e a graça divina, que nos chamam a ir além de nós mesmos e, contemplando o mundo com os próprios olhos de Deus, sob a luz do Evangelho, transformá-lo em verdadeira família onde todos, como irmãos e irmãs, possam se sentar à mesa do Pai misericordioso e repousar junto ao seu coração amoroso e bondoso.

 

 

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Este texto conclui uma série de doze pequenos artigos sobre a Exortação Amoris Laetitia. Se você quiser se aventurar a ler os anteriores, segue os links em ordem de publicação:

http://www.pluriversoteologico.com.br/2016/08/a-alegria-do-amor-amoris-laetitia-i.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2016/08/o-evangelho-da-familia-amoris-laetitia.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2016/09/a-realidade-e-os-desafios-das-familias.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2016/10/um-desafio-particular-o-enfraquecimento.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2020/08/a-vocacao-da-familia-amoris-laetitia-v_59.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2020/08/o-amor-no-matrimonio-amoris-laetitia-vi_27.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2020/09/o-amor-que-se-torna-fecundo-amoris.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2020/11/algumas-perspectivas-pastorais-amoris.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2021/04/entre-crises-e-angustias-amoris.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2021/04/reforcar-educacao-dos-filhos-amoris.html

http://www.pluriversoteologico.com.br/2021/06/acompanhar-discernir-e-integrar.html

Comentários

  1. Obrigado pela maravilhosa reflexão. Um texto repleto de dicas cristãs para uma vida mais próximo de Deus e Seu Reino. Obrigado por mais esse belíssimo texto. Parabéns

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