Desafios para uma evangelização essencial

Por esses dias estive pensando na nossa situação atualíssima de evangelização através das mídias digitais, que se tornaram verdadeira necessidade de comunicação por causa do isolamento social durante esta pandemia do Covid-19.

Basicamente, andei com o pensamento em duas situações.

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Primeiro, muitos foram obrigados a “torcer a língua”, pois demonizavam o uso do celular, da internet e das redes sociais e, agora, estas se tornam as ferramentas possíveis e eficazes para fazer ressoar a Palavra e celebrar a Eucaristia. Claro que ainda nos falta muito para otimizar o uso desses valiosos instrumentos de comunicação, mas passos foram dados com largueza.

A superação do preconceito contra o mundo digital precisa ainda avançar. Afinal de contas, não se trata mais de falar de uma “coisa” virtual alheia à vida das pessoas, mas de uma realidade digital presente no nosso universo de vivência concreta. É verdade que o digital não é concreto, mas o psicológico e afetivo também não são, e mesmo assim não deixam de ser reais e nos influenciar, inclusive, nas decisões mais importantes da vida. O religioso tende para a mesma consideração.

Também aqui um dado de fato: é a juventude quem gerencia esse processo de inovação. Posso dar um tiro no escuro e acertar sem medo: todos os membros da Pastoral da Comunicação de nossas paróquias estão não muito longe da casa de 20 ou 30 anos de idade. O paradoxo se concentra no público atingido. Posso dizer, sem muita dúvida também, que a maior parte dos que acompanham as transmissões pelas redes sociais e aplicativos streaming se avizinham do outono da vida. O que isso quer dizer?

Sinto que esse panorama da realidade da evangelização nesta pandemia nos oferece uma provocação: mais do que nunca, é preciso integrar as forças da juventude e dos adultos mais velhos para uma renovação pastoral.

Existe um rebanho jovem, cheio de boas ideias e novos conhecimentos, sedento de espaço e oportunidade, que pode em muito contribuir para uma evangelização mais moderna, eficaz e eficiente. Jovens equilibrados e bem dispostos, que não querem ser rotulados pelo que fazem ou deixam de fazer, mas por quem são e pelo que podem oferecer.

De outro lado, existem muitos fiéis, que não abandonam sua identidade cristã, moldada a ferro e fogo, e se mantém seguros em sua adesão à Igreja através dos recursos que lhes foram oportunizados de forma simples mas segura, e que são capazes de toda forma de serviço para ver sua comunidade florescer. São sábios no uso de suas técnicas, respiram as alegrias outrora vividas, e também exigem da comunidade de fé algo que lhes inspire de novo aquele perfume fresco e fascinante de tempos atrás.

Não são realidades excludentes, mas faces diversas das pessoas que vivem e atuam no seio de nossas comunidades. Uma aproximação franca, livre de preconceitos (“jovem não quer nada com nada”, “velhos são chatos e atrasados”...), mesmo forçada, faria muito bem, e traria uma nova luz à nossa dinâmica pastoral/evangelizadora.

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O segundo ponto: o que estamos produzindo – reflexão e oração de verdade ou espetáculo midiático? E aqui quero fazer uma (auto)crítica um tanto mais dura e contundente.

O areópago era uma espécie de tribunal supremo da Grécia Antiga, em que as grandes questões eram discutidas e sentenças proferidas segundo o conselho dos mais sábios homens daqueles tempos, inspirados pela própria Atena, a deusa da sabedoria. Na época do cristianismo das origens, Paulo usa esse espaço sagrado para os cidadãos de Atenas como lugar do querigma, do primeiro anúncio de Jesus (cf. At 17). De onde antes se aplicava a justiça humana, agora o povo é requisitado a ouvir a boa-nova da justiça divina, o evangelho de Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo, crucificado e ressuscitado.

Um instrumento da vida cotidiana passava a se transformar em veículo de evangelização. Essa é a grande estratégia da Igreja em todos os tempos e lugares. Um passo que se dá não sem riscos. A tentação sempre ronda. Mensagem e mensageiro estão sempre à mercê da perversão – dos meios e dos fins. O comunicador pode ceder a tornar-se a estrela, ofuscando a luz da Palavra que anuncia, e se espetaculariza. Desse modo, os valores se invertem, o fundamento se torna instrumento, a fé se transforma em palanque, em palco, e perde toda a sua força original.

Não queremos discutir as intenções, que são sempre boas, é verdade. Mas as confusões são sutis e os estragos podem ser permanentes, sobretudo com a paramentação do sagrado sobre os gestos e palavras. As mídias sociais se transformam em verdadeiros palcos, onde a minha palavra obstaculiza a Palavra Divina, a caridade se torna pretexto e exibição, o ego do discípulo se sobrepõe à verdade do Mestre. Quando isso parte dos pastores da Igreja então... um câncer se instala no coração do sistema eclesiástico. Religião se torna coaching. É o princípio do fim. Números se tornam mais importantes que pessoas, manias sufocam as rubricas, o evangelho se apresenta como entretenimento sofisticado e de bom gosto, mas não converte mais ninguém.

Daí me pergunto: o que é mesmo essencial? Comenta, compartilha e me ajuda a pensar!

Comentários

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