O coronavírus tem a nos ensinar




Há um certo tempo deixei de publicar uns textinhos por aqui. Um bom hobbie do qual abri mão em nome das inúmeras tarefas da vida pastoral. Penso que quem mais perdeu nesse tempo fui eu. Nem sempre há muitos prazeres para consolar a minha vida... o isolamento social pedido pelo risco de contágio na pandemia do novo coronavírus me oportunizou uma chance de recomeçar. Deo gratias!

Não me resta dúvida, por isso não dirijo a ninguém a pergunta, mas afirmo: o coronavírus tem muito a nos ensinar. Nada de novo, é verdade. Resgatar a velha sabedoria, porém, é sempre aprendizado.

É preciso rever os valores da família, do relacionamento interpessoal, da necessidade e da capacidade afetiva de cada indivíduo e do tecido social como um todo. Se conviver em família era um acidente, cruelmente causado pela ausência de transmissão wi-fi ou pela queda do sinal da operadora de telefonia celular, tornou-se, agora, questão de sobrevivência e atitude fundamental. Não existe jovem “dono do próprio nariz” que não esteja confortavelmente agradecido nestes dias por desfrutar das regalias (emocionais e alimentares) da casa da mamãe e do papai.

Entra em xeque a (in)capacidade dos governos em alcançar soluções para situações graves e urgentes. Investimentos em infraestrutura e necessidades básicas da população em geral devem ocupar o topo das agendas de trabalho dos poderes constituídos em todos os níveis de competência e atuação. Hospitais e escolas nunca são demais! Será que vão aceitar isso desta vez? Em ano eleitoral...

É mais que urgente revisitar, como gente religiosa e de Igreja, o que realmente importa e constitui o centro da nossa vida de fé. Com a paralisação total das atividades públicas das igrejas, o que fica? Por que meios vamos, de fato, consolidando a fé? Esta exige comunidade, mas o que fazer, em tempos onde a exigência é o afastamento voluntário? Precisamos, mais do que rever os calendários, rever toda a dinâmica eclesial e a dinamização pastoral de nossas estruturas. Minimalismo pastoral pode ser a salvação do inchaço que tem gerado o enfado e a insatisfação de muitos de nossas fileiras de frente.

Mais que o isolamento, a pandemia do COVID-19 nos chama à solidão. Não um simples afastamento social, mas uma volta à intimidade conosco mesmos. Quanto se perdeu em tempo de interconectividade e redes sociais... Ainda é possível resgatar. Valores. Sonhos. Expressões. Almas. Nós mesmos. Bem-vindo de volta!


Comentários

  1. Belíssimo texto! Deus seja louvado por sua vida!!

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  2. Concordo plenamente....valores pessoais e familiares de volta... parabéns padre...muito top essa reflexão

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  3. Ótima reflexão. O máximo tbm é notar que nem o wi-fi estão atrapalhando as relações familiares nesses dias. Todos conectados pelos laços afetivos do amor em família.

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  4. De uma profundidade e sabedoria peculiares.
    Excelente texto👏👏

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  5. Nos leva para uma reflexão pronfunda. Sobre nós mesmo.

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  6. Critica e profecia. Texto genial. Inteligencia com vc é mato, padre.

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